Num cenário de grande festa em Alvalade, o regresso do Sporting à Liga dos Campeões, seis anos depois, foi coroado de êxito. Um golo espectacular de Caneira, aos 65 minutos, quebrou o enguiço dos "leões" frente ao Inter de Milão.
Yannick Djaló foi a grande surpresa no onze de Paulo Bento. O jovem avançado, ausente dos dois primeiros jogos da Liga portuguesa devido a castigo, mereceu a titularidade frente aos italianos, fazendo dupla no ataque com Liedson. No meio campo, Miguel Veloso (que jogo) voltou a surgir na posição de trinco, mantendo-se as quatro unidades utilizadas frente ao Nacional, mas Paulo Bento voltou a impor a lei da rotatividade nas laterais (Caneira e Abel), mantendo Polga e Tonel no eixo defensivo. E foi por aí, através de grande coesão defensiva, que os "leões" começaram a anular as principais "armas do Inter. Roberto Mancini (com Materazzi no banco) apostou na dupla Ibrahimovic/Adriano para atacar a baliza de Ricardo, juntando aos pesos pesados do meio campo (Vieira, Figo e Stankovic, o francês Dacourt para colmatar o lugar deixado vago devido à lesão de Cambiasso.
Perante dois sistemas praticamente semelhantes, houve sempre pouco espaço para jogar na zona intermediária do terreno (muita pressão sobre a bola), contudo a juventude do meio campo do Sporting nunca se intimidou com o poderio italiano. De "peito" feito a equipa verde e branca foi travando as iniciativas do adversário com inteligência e capacidade de sofrimento. Oportunidades flagrantes na primeira parte nem vê-las. Liedson, com uma boa iniciativa individual sobre Maicon pôs a defesa interista em sentido, mas seria Nani (apesar de jogar sempre muito recuado) a causar frisson em Alvalade, à passagem do quarto de hora, numa jogada em que a bola acabou por tocar – de forma involuntária é certo – na mão de Walter Samuel. O árbitro luxemburguês, Alain Hamer, que até meio da primeira parte pareceu pouco caseiro, nada assinalou. Moutinho e Nani garantiam o equilíbrio das operações, enquanto o argentino Romagnoli "desenhava" (quase sempre em tabelas sucessivas) as melhor jogadas da primeira parte.
Perante muita intensidade a meio campo, o Inter também não conseguia arranjar espaços para visar a baliza do Sporting. Apenas aos 40 minutos, após jogada de Figo, Adriano intimidou Ricardo, com o internacional português a defender de forma segura.
Se em termos defensivos o Sporting esteve irrepreensível, é um facto que lhe faltava alguma profundidade atacante, mas na segunda parte, com Moutinho a subir um pouco mais, Nani voltou a tentar a sorte de longe num remate ao lado da baliza de Toldo. Ao minuto 65, o momento de viragem no equilíbrio do encontro. Caneira, cheio de fé, marcou um golão com um "disparo" do meio da rua que surpreendeu toda a gente, inclusive Toldo. Em vantagem no marcador, e com a cabeçada de Vieira, pouco depois, em Alecsandro (que havia entrado há pouco para o lugar de Romagnoli), o Sporting ficou com o jogo na "mão". Reduzida a dez unidades, a formação transalpina passou a ter maiores dificuldades para pautar o jogo como havia feito até aí. Mancini ainda trocou Figo por Gonzalez e Adriano por Crespo, mas, apoiando-se nas mudanças de velocidade de Nani e Djaló, os “leões” passaram a gerir o jogo com uma lucidez impressionante. E só não ampliaram a vantagem, porque Liedson chegou atrasado ao cruzamento de Moutinho. Com o Sporting quase a fazer história, Tello (Nani) ajudou a dar maior coesão defensiva a Veloso. Ibrahimovic ainda assustou Alvalade, num remate perto ao poste da baliza de Ricardo, no entanto a equipa de Paulo Bento acabou por dar uma grande lição de maturidade até final (para além de evidenciar muita serenidade a defender), entrando de pé direito na fase de grupos da Liga dos Campeões.
Sporting, 1 - Inter de Milão, 0
Liga dos Campeões - Grupo B - 1ª jornada
Árbitro: Alain Hamer (Luxemburgo).
SPORTING - Ricardo; Abel, Polga, Tonel, Caneira, Miguel Veloso, Moutinho, Nani (Tello, 81m), Romagnoli (Alecsandro, 65m), Yannick Djaló e Liedson:
Suplentes não utilizados: Tiago; Ronny, Miguel Garcia, João Alves e Carlos Bueno.
Treinador: Paulo Bento.
Disciplina: Cartão amarelo para Liedson (15m) e João Moutinho (20m).
Golo: Caneira (65m).
INTER DE MILÃO - Toldo; Maicon, Walter Samuel, Córdoba, Grosso (Javier Zanetti, 79m), Patrick Vieira, Stankovic, Olivier Dacourt, Luís Figo (Mariano Gonzalez, 66m), Adriano (Crespo, 70m) e Ibrahimovic.
Suplentes não utilizados: Julio César; Maxwell, Santiago Solari e Marco Materazzi.
Treinador: Roberto Mancini.
Disciplina: Cartão amarelo para Toldo (31m) e Patrick Vieira (43 e 67m).
Cartão vermelho para Patrick Vieira (67m).
Resultado ao intervalo: 0-0
12 de Setembro de 2006.
Texto: Sandro Baguinho
Fotos: José Cruz e Mário Cruz
1 comentário:
Confesso que não estava à espera de uma vitória sobre o poderoso Inter de Milão. Por várias razões. O Sporting é uma equipa jovem e sem grande experiência internacional ao mais alto nível e apresentava-se desfalcado de jogadores nucleares na zona central do campo. A repetição do 0-0 do jogo da pré-temporada já seria, por isso, "um bom resultado". Mas os 90 minutos de um jogo intenso e disputado a grande ritmo revelaram um Sporting quase perfeito, a jogar um futebol total, atacando e defendendo em bloco, um Sporting combativo, competitivo e harmonioso, capaz de justificar a vitória por 1-0, conquistada através de um golo estupendo de Marco Caneira.
A partir de hoje, há leõezinhos à solta na Europa do futebol. A partir de hoje, os holofotes do futebol internacional voltam-se para Lisboa e Alcochete. Importa não perder o pé e continuar a trabalhar com afinco e humildade. Importa interpretar correctamente o discurso sereno e realista do treinador Paulo Bento, interiorizando as ideias centrais. Afinal, o Sporting tem seis pontos da Superliga e três pontos na Liga dos Campeões, mas ainda não ganhou nada. Um discurso talvez pouco adequado a uma noite de glória como esta, tal a valia e o poder do adversário italiano que hoje caiu em Alvalade. Mas um discurso cem por cento certo para que a equipa leonina continue com os pés assentes no chão, semeando qualidade e profissionalismo por essa Europa fora e demonstrando que o futebol português que acontece dentro das quatro linhas não tem nada a ver com quem o dirige e o regula fora delas.
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