HONREM A CAMISOLA!

sábado, 16 de setembro de 2006

Ricardo em entrevista ao jornal 'A Bola'

O jogo de hoje, com o Paços de Ferreira, não é apenas mais um na carreira do guarda-redes Ricardo. Quando entrar em campo, o titular do Sporting e da Selecção Nacional cumprirá o jogo número 100 com a camisola do leão, entrando para um lote reduzidíssimo de guarda-redes que atingiram essa marca, casos dos históricos Vítor Damas, Azevedo ou Carlos Gomes. Por isso, Ricardo sabe que, passo a passo, vai entrando também para a história do Sporting, clube que, garante, «é um dos melhores do Mundo». Nesta entrevista, o guarda-redes leonino volta a afirmar a sua vontade em jogar até aos 40 anos e explica porque deixou de jogar com o número 76, passando a actuar com o 1. Ricardo fala ainda dos jogos que mais o marcaram, pela positiva e pela negativa, assim como das melhores defesas e dos golos mais consentidos. E até dos golos que gostava de ter marcado.

Pode gostar-se ou não dele, pela sua forma espontânea de ser, mas a ninguém Ricardo é indiferente. No entanto, serão, seguramente, muito mais aqueles que o idolatram e que não esquecem os seus feitos, sobretudo com a camisola da Selecção Nacional vestida. Nos últimos Europeu e Mundial, por exemplo, foi elevado a herói nacional, uma vez que o seu papel foi decisivo no belo trajecto da equipa das quinas nessa prova. Hoje, o jogador do Sporting volta a fazer história. Agora de leão ao peito.

— O que significa chegar aos 100 jogos pelo Sporting na Liga?

— É um marco histórico, pois sei que entro para um grupo limitado de jogadores que conseguiram esse feito. E não foram muitos. Começo a fazer parte da história de um grande clube. Tenho muito orgulho em cumprir agora 100 jogos, mas espero fazer muitos mais.

— Ou seja, se quer jogar até aos 40 anos, se possível no Sporting, muitos mais 100 se seguirão...

— Se jogar mais dez anos... É como digo: se tiver saúde e a felicidade de não tiver lesões graves, as coisas são sempre muito menos difíceis. É marca bonita e o melhor disto será, no dia em que completo 100 jogos, que o Sporting vença o encontro. Seria uma prenda bonita.

— Tem consciência de que entra num lote muito reservado de guarda-redes que passaram pelo Sporting e atingiram essa marca...

— É uma responsabilidade. Mas vestir esta camisola já é uma responsabilidade. Entro para um lote de poucos jogadores que, na minha posição, conseguiram chegar aos 100 jogos e estar perto de nomes grandes da história do Sporting, de grandes guarda-redes, é um privilégio e uma honra.

— Qual é a sua ambição para o jogo 100, com o Paços de Ferreira?

— A vitória do Sporting! Todos trabalhamos para que as coisas nos corram bem individualmente, sabendo que o contributo individual vai fortalecer o colectivo. Importantes são os três pontos.


Os fiéis adeptos

— É um dos jogadores mais queridos da massa associativa. Está à espera de alguma manifestação especial da parte dos adeptos pelo feito?

— Não sei... Os adeptos, ao longo do tempo, têm sido sempre fiéis, surpreendem-nos sempre pela positiva. Como tal, os jogadores esperam sempre coisas boas. Não sei se irão fazer alguma coisa. Para mim é uma marca bonita, será um jogo especial, pelo que vou tentar ajudar para lhes oferecermos mais uma vitória.

— Como pensa que vai atingir o objectivo de jogar até aos 40 anos se a vida de um futebolista de alta competição é tão desgastante?

— A longevidade de um guarda-redes é sempre maior que a dos restantes jogadores. Depois, também tem a ver com a nossa paixão pelo futebol. E, como já disse, não ter lesões graves, que são elas que retiram anos de futebol às carreiras dos futebolistas, e ter uma vida regrada ao máximo, apesar de haver sempre um excesso ou outro quando se pode. Enfim, ter uma vida condizente com a profissão. É um objectivo a longo prazo, faltam 10 anos, mas outros guarda-redes, meus ídolos, chegaram lá. Porque não eu conseguir também? Afinal, faço uma vida regrada. Só peço a Deus que me ajude e me livre das lesões.

— Chegou e escolheu o número 76. Entretanto mudou para o número 1. Porque decidiu mudar?

— Não escolhi. O número 1 ficou vago com a saída do Nélson e juntei o útil ao agradável. Assim, escusam de estar a pôr dois algarismos nas botas e nas luvas... [gargalhadas]. É o número que normalmente é atribuído aos guarda-redes, na altura que cheguei pertencia ao Nélson, que estava cá há mais tempo, e optei pelo 76, o meu ano de nascimento.

Jogos e jogos, defesas e defesas...

— Qual o jogo, ou jogos, que mais o marcaram pela positiva?

— O jogo com o Inter está na nossa memória, aquela reviravolta histórica com o Newcastle, na Taça UEFA, a meia-final em Alkmaar, onde conseguimos uma vitória fabulosa...

— E no Campeonato?

— São tantos... É difícil escolher alguns, posso ir-me lembrando de vários jogos, mas, assim, de repente, é difícil. Cada jogo é especial, mas a verdade é que na memória ficam sempre os mais recentes.

— E pela negativa?

— A final da Taça UEFA, o jogo em que, no Estádio da Luz, nos tiraram a possibilidade de podermos lutar pelo título, e mais alguns jogos em que queríamos muito ganhar e não conseguimos. Lembro-me dos jogos com a Udinese, de apuramento para a Liga dos Campeões...

— Qual foi a defesa, ou defesas, que mais o marcaram nestes 100 jogos. Tem alguma ideia?

— É difícil, é difícil... Não consigo encontrar uma. Lembro-me de várias. Prefiro guardar a melhor para o dia em consiga ganhar um título pelo Sporting.

— E há algum golo que tenha sofrido em que tenha sentido que podia ter feito mais?

— Há vários. Revejo sempre os jogos e, mesmo nos golos nos quais, à partida, não há possibilidade de defesa, e como sou o meu maior crítico, tento sempre arranjar forma para dizer que podia fazer mais qualquer coisa. Mas estou a lembrar-me do jogo com a Udinese, no qual houve um lance em que deixei escapar a bola por excesso de confiança; lembro-me também daquele lance no jogo com o Rio Ave, em que deixei a bola passar por baixo das pernas, pois, em vez de estar preocupado em segurar a bola, já estava a ver onde é que ia colocá-la. Acontece de vez em quando. Por um lado, ficamos tristes, porque a equipa sofreu um golo, mas, por outro, o lado crítico entra logo em acção e penso: bem feita, lembra-te que as coisas que parecem mais fáceis são, por vezes, as mais difíceis...

— Há alguma mensagem que queira deixar aos adeptos neste dia em que comemora um feito tão especial ao serviço do Sporting?

— Que continuem, como sempre, a apoiar a equipa, sobretudo nos piores momentos. Somos uma equipa muito jovem, mas de enorme valor, mas pode haver um ou outro percalço, e de certeza que vai acontecer, pois a época é muito longa, eles têm de acreditar sempre em nós e devem apoiar-nos. Será fundamental. E se vamos para o campo com a obrigação de dar o nosso melhor, os adeptos do Sporting, que são exigentes, também têm de apoiar até à última, principalmente os mais jovens. Se apoiarem, de certeza que, no final, vão ter uma grande alegria.

— Mas ainda lhe falta marcar uns golinhos...

[risos] Já marquei um penalty! A minha missão é sobretudo defender e tentar ajudar nos ataques rápidos e isso já aconteceu. É óbvio que gostava de marcar um golo, não vou dizer que não, mas tem a ver com a necessidade e a vontade do nosso mister. A minha função é defender e ajudar a não sofrermos golos.


Tem-se sentido bem na pele de capitão?

— Envergar a braçadeira é motivo de orgulho e uma honra. Mas é mais simbólico, pois o grupo tem sempre as mesmas responsabilidades, o mesmo carinho para com quem não está tão bem, a mesma crítica para quem está bem e tem de perceber que tem de manter esse nível. Enfim, ser capitão não é só envergar a braçadeira, há responsabilidades muito maiores do que essa.

— O Ricardo é o seu maior crítico e tem sido criticado pelas saídas aos cruzamentos. Esse é o seu ponto fraco?

— Essas críticas passam-me ao lado, pois em noventa e nove por cento das vezes são feitas por pessoas que não percebem nada de futebol. Essas pessoas só me fazem rir...

O Sporting conseguiu, terça-feira passada, uma vitória fabulosa, diante do todo-poderoso Inter de Milão, em jogo da Champions. Hoje, com o Paços de Ferreira, não poderão os leões cair no erro de descansar à sombra desse resultado histórico? Ricardo garante que não.

— É possível ver o leão a correr com o P. Ferreira como correu com o Inter? Não há perigo de deslumbramento?

— De certeza que iremos correr mais do que corremos com o Inter. Somos homenzinhos suficientes para saber que depois de grandes jogos as dificuldades, no jogo a seguir, são mais que muitas. Por isso, já estamos todos mentalizados de que o jogo com o Paços é mais um para ganhar.

— Sporting parece ser a equipa mais consistente deste início de época. Concorda?

— Estamos bem, é verdade, mas há outras equipas que também estão. Mas era essencial começar bem, a ganhar, pois dá sempre confiança. Agora, desejamos que esta confiança vá sempre crescendo, até final do campeonato. Vamos encontrar adversidades, podemos perder pontos aqui ou acolá, pelo que desejamos que esta consistência se mantenha até final das competições.

— Que diferenças encontra entre o Ricardo do Boavista e o Ricardo do Sporting?

— A idade... Estou menos novo. Vivo cada ano com muita intensidade e estamos sempre a aprender. As diferenças são as normais de quem vai passando os anos. Acumula-se maior experiência, vamos tendo mais feeling para umas coisas, vamos apurando alguns pormenores.


GRANDE RICARDO !

2 comentários:

JL Portela disse...

Associando-se aos cem jogos de Ricardo na baliza leonina, «A BOLA» premiou o guarda-redes com dois quadros alusivos à sua carreira. Um cartoon que saiu da imaginação de Ricardo Galvão e uma fotografia respeitante à vitória do ano passado na Luz (3-1). Quadros que Ricardo apreciou e promete guardar junto das boas memórias que o futebol lhe tem dado

Anónimo disse...

É excelente a ideia de ligar a Academia Sporting - Centro de Futebol do Sporting Clube de Portugal a outras estruturas de formação espalhadas pelo país, de modo a acompanhar mais de perto os novos telentos que despontam de norte a sul do país. É mais um passo em frente e à frente de todos os clubes de futebol em Portugal. É o abono de família para um crescimento sustentado do futebol do Sporting. É o caminho certo para um futuro sólido. Desta é que Pinto da Costa não se lembrou. E ao deixar de ver os frutos da formação na equipa principal do FC Porto com a quantidade de anos anteriores, o presidente dos "dragões" foi a correr contratar Luís Castro para chefiar o departamento de futebol juvenil.
Refira-se que, de acordo com o site oficial do Sporting, a Academia de Alcochete é o pólo de trabalho de todo o futebol do Sporting, dispondo ainda de instalações para alugar. Está ao serviço da preparação e dos estágios da equipa profissional e de todos os escalões de formação a partir dos 13 anos de idade. Além do grupo de trabalho profissional podem trabalhar diariamente na Academia seis equipas de futebol, num total de 240 atletas.
A Academia é um pilar estratégico do novo Sporting. Proporciona excelentes condições de trabalho aos profissionais, além de ser fundamental para o desenvolvimento da conhecida escola de futebol do Clube e para a formação de talentos, muitos dos quais residem nas instalações.